quinta-feira, 19 de junho de 2014

Como enxergar sem óculos

Originalmente postado na Resistência, adaptado pra cá. Esse post provê informações vitais para míopes que perderem os óculos num pós-apocalípse e precisarem de uma gambiarra pra ver alguma coisa.

A primeira opção pra enxergar sem óculos, obviamente, é ter olhos bons e sem miopia ou ter dinheiro pra pagar a cirurgia. A segunda é algo que eu descobri quando ganhei uma câmera.

Existem três coisas numa câmera que determinam a quantidade de luz que pode entrar: o ISO, a abertura do diafragma e a velocidade do obturador. O ISO é o quão sensível o sensor é à luz, quanto mais for, mais clara a imagem, mas também mais ruído, principalmente em áreas escuras. O tempo de obturação é quanto tempo o sensor vai ficar exposto à luz, quanto mais tempo, mais luz entra, mas em compensação, mais chances da câmera balançar e a foto sair tremida. É por isso que fotos tiradas à noite no modo automático geralmente saem tremidas: a câmera detecta que está entrando pouca luz e prolonga o tempo de captação da imagem, e nesse tempo você se mexe e ela sai um borrão. E a abertura do diafragma, por fim, é o diâmetro do furo por onde entra a luz. Quanto maior, mais luz entra, mas isso também reduz significativamente a distância focal.

Como eu tenho miopia desde sempre e uso óculos desde os 8 anos, eu sempre fui muito em oftalmologistas pegar receitas novas de óculos conforme o grau piorava. Numa dessas consultas eu comentei com o médico que as pessoas reparavam que minhas pupilas são anormalmente dilatadas e perguntei se isso era normal. A resposta dele foi "é normal em casos mais fortes de miopia". Bom, pelo menos uma pessoa não atribuiu isso à drogas. Foi aí que eu comecei a pensar na relação entre olhos e câmeras. Pessoas com miopia tem a distância focal curta, câmeras com abertura do diafragma alta tem distância focal curta. Em pessoas normais, as pupilas dilatam no escuro pra entrar mais luz, mas em pessoas com miopia, a pupila é normalmente dilatada exatamente como uma câmera com foco curto. Funciona exatamente da mesma forma.

A próxima coisa a pensar era óbvia: "se a distância focal é inversamente proporcional ao diâmetro do diafragma/pupila, então se eu reduzir o vão de entrada de luz dos meus olhos, eu vou conseguir ver mais longe". Então eu tirei o óculos e fiquei a uns 50cm da tela [distância a qual eu já não consigo mais ver onde acaba uma palavra e começa a seguinte], fiz um furo bem pequeno numa folha de papel usando uma agulha, e olhei através dele. E consegui ler o texto a 50 fucking centímetros de distância da tela, sem óculos. SCIENCE, BITCHES.

Eu tentei explicar isso pra algumas pessoas que não tinham miopia e elas não entenderam merda nenhuma, até que recentemente um canal que eu sigo postou esse vídeo explicando como a porra toda funciona, pra até quem enxerga bem conseguir entender:
 




Isso explica também o misterioso funcionamento disso aqui, que apesar de ser genial, ainda não é tão eficiente quanto lentes de verdade.



Bônus: Como enxergar bêbado

Apesar de não ter testado essa, parece óbvio que funcione. Eu sempre gostei muito de estereoscopia e um dos meus hobbies de ponto de ônibus, além de encontrar a raiz etimológica de palavras aleatórias, é ficar alternando e sobrepondo o foco de objetos próximos ou de padrões.
Desde as primeiras notícias sobre o Oculus Rift, eu tenho feito uma porção de testes pra ter certeza de que vou poder jogar em um sem precisar operar os olhos primeiro, e no meio disso tudo eu percebi que quando bêbados estão vendo dobrado, é porque o cérebro está falhando em sobrepor as imagens levemente diferentes que cada olho está captando.
A solução pra isso? Feche um olho. Ciclopes alcoolizados nunca vão sofrer de visão dobrada, porque não precisam sobrepor duas imagens diferentes pra formar só uma com profundidade, já que só estão captando uma. É por isso que eles não podem ver filmes 3D.



Outro bônus totalmente de graça: Como enxergar no escuro

Uns anos atrás eu li em algum lugar dessas terras selvagens da internet um lifehack que dizia que se você levantar de noite pra ir no banheiro e não quiser voltar metendo o dedinho do pé na quina dos móveis no caminho de volta pra cama, você deve fechar um olho antes de acender a luz do banheiro e manter ele fechado até apagar a luz e ter que fazer o caminho de volta até o quarto no escuro. Quando você apagar a luz, você abre o olho que estava fechado e consegue enxergar no escuro com ele. 

A princío eu achei que não funcionaria, mas testei e realmente funcionou. Isso é especialmente útil pra quando você quer ver a hora no celular ou ver a mensagem que acabou de chegar no meio da noite e não quer ficar completamente cego pelo brilho da tela. Cubra um olho e só fique 50% cego com um holofote na sua cara dizendo que seus créditos estão acabando e que você pode colocar mais na casa lotérica mais próxima.

Vocês já devem ter entendido como e porque isso funciona, mas caso ainda haja dúvidas: como eu expliquei lá em cima, a abertura do diafragma de uma câmera é responsável não apenas pela distância focal, mas pela quantidade de luz que entra. Como os olhos funcionam no modo automático e estão o tempo todo se reajustando pra funcionar de acordo com a luminosidade do ambiente, na hora que você acende a luz, a pupila contrai, ficando com uma abertura pequena o suficiente pra entrar só a quantidade de luz necessária pra imagem não ficar superexposta. O problema é que quando você apaga a luz, a pupila ainda está contraída e leva algum tempo pra dilatar o suficiente pra você voltar a enxergar no escuro, e nesse tempo você já tropeçou no cachorro e chutou o pé da mesa. A solução para visão instantânea tanto no claro quanto no escuro é dedicar só um olho pra cada coisa, mantendo um olho fechado no claro pra que a pupila dele não contraia, assim ela ainda está dilatada o suficiente pra continuar enxergando quando você apagar a luz.

Sabendo disso você não precisa pensar muito pra perceber que foi uma criança iludida: piratas não usam um tapa-olho porque tiveram um olho arrancado em batalha, eles usam porque estão o tempo todo alternando entre a claridade exagerada do mar refletindo a luz do sol e a escuridão da parte interna do barco, que é sempre escura por ter no máximo uma janela pequena de vidro. Com o tapa-olho, um dos olhos está sempre pronto pra enxergar no escuro, permitindo que o pirata não perca tempo esperando os olhos se adaptarem quando entra ou sai da cabine do barco.


2 comentários:

  1. Esse foi o post mais útil que eu já vi no blog até agora!

    Agora eu entendo por que a minha visão piorava à noite (tá, acho que a visão de todo mundo piora quando está escuro, mas a minha realmente ficava mais borrada) e por que eu conseguia melhorar ela se eu puxasse as pálpebras como se fossem de japonês (às vezes eu até mesmo conseguia fazer isso sem puxar elas, eu só "apertava" alguma coisa dentro do olho e a visão melhorava um pouco, mas depois os meus olhos ficavam doendo (pode ser que eu estivesse contraindo a pupila, nem sabia que dava para fazer isso voluntariamente lol)).

    E para enxergar no escuro eu costumava usar a visão periférica, porque usa mais os bastonetes, mas o jeito que você explicou parece mais eficiente.

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